Cresci num lar católico, e aos 19 anos, o amor e o perdão de Jesus me envolveram. Decidi segui-lo e obedecê-lo. Acho que todos nós, quando somos crianças, temos sonhos do que nos tornaremos quando formos adultos, mas nunca imaginei que acabaria morando fora do meu próprio país, e mais ainda que teria as experiências mais marcantes da minha vida em um país muçulmano na África.
Nem todos os países muçulmanos são governados pelo islamismo radical. O governo do país onde morei permite que os expatriados se reúnam para cultuar a Deus, e prova disso é que no centro da capital temos uma catedral e um templo protestante. No entanto, não é um lugar onde a população local queira ser vista, já que eles entendem que esses lugares são para os “cristãos”: pessoas cheias de vícios, promíscuas e sem temor a Deus. Nós, como equipe, decidimos antes de chegar ao país que não nos identificaríamos como cristãos e, em segundo lugar, não participaríamos dos serviços religiosos nesses locais. Você deve estar se perguntando: então como se identificam e onde cultuam a Deus? A maioria de nossos amigos e vizinhos locais fizeram essa pergunta antes de aceitar continuar conversando conosco, a nossa resposta e que somos “Masihis”, que significa seguidor de Jesus, e complementamos ilustrando que da mesma forma que eles obedecem às palavras do Alcorão, nos obedecemos à Bíblia, e que, assim como eles obedecem, seguem e amam Maomé, nós também seguimos, obedecemos e amamos a Jesus.
Consequentemente, as perguntas a respeito de nossa fé continuam, mas agora com o interesse de conhecer e até, em alguns, de comparar com suas práticas. Eles ficam interessados por conhecer mais a respeito de quantas vezes oramos, se jejuamos e onde adoramos nosso Senhor. Abertamente, lhes dizemos que nos encontramos em nossas casas, onde junto com as crianças podemos ter um momento de adoração, meditação da Palavra e oração. Tudo isto com dupla intenção. Por um lado, é verdadeiramente a nossa forma de culto ao Senhor, mas também é para despertar neles a curiosidade e deixá-los à vontade para continuar perguntando.
Até aqui, tenho só relatado o que é nossa realidade como crentes expatriados morando num país não tão radical. Porém, a situação muda drasticamente quando os cultos são entre pessoas que deixaram o Islã e decidiram seguir Jesus. Lembro-me da primeira vez que participei de um desses cultos. Foi na casa de uma família queniana localizada bem em frente à uma amplia área aberta, que no tempo de Ramadã é usada por centenas de homens para orar e meditar. Justamente essa reunião aconteceu na última semana do jejum, e todo o redor da casa dos meus colegas estava lotado de gente. Para poder entrar na casa, precisamos esperar alguns minutos e assim não chamar a atenção dos vizinhos e as pessoas. A sala era pequena, mas foi espaço suficiente para mais de 10 pessoas. Cada um achou um lugar para se sentar no tapete. A princípio, deu para perceber um pouco de preocupação no ambiente. Muitos deles não se conheciam. O tempo de louvar a Deus começou, tudo na língua local, e pudemos sentir como clima mudou. As canções, que no início eram quase sussurradas e tímidas, foram ganhando fervor e mais volume. De repente, fomos inundados com liberdade, paz e muita alegria.
Naquela reunião não havia ninguém para conduzi-la, e por unanimidade decidiu-se que o melhor era se apresentar, dar uma palavra ou relatar como foram encontrados pelo nosso Mestre. A grande maioria decidiu compartilhar suas histórias, e foi um momento de muitas lágrimas de alegria. Eles mesmos perceberam que não estavam sozinhos, mas que o Senhor os havia chamado para fazerem parte de uma família. Eles também compartilharam suas lutas e anseios. O encontro durou mais do que o esperado, mas ninguém queria deixar a casa, e todos saíram daquele lugar cobertos de oração e forças para seguir em frente. Outro detalhe muito importante é que conseguimos ter uma boa refeição juntos. Um doce momento de comunhão!
Depois daquele encontro, outros vieram, até que uma noite a casa daquela família Queniana foi invadida de madrugada. Pudemos ver a mão protetora de Deus: os vizinhos relataram que viram os ladrões armados com machados, porém eles não perceberam que a família estava dormindo no telhado e não sofreram nenhum dano. Depois desse incidente, tivemos que encontrar outro lugar para nos reunirmos. Anos depois, a casa de outro de nossos colegas, onde costumávamos nos reunir para nossos cultos, foi apedrejada por jovens estudantes da mesquita mais próxima. Nesse tipo de situação, não é útil registrar uma queixa na polícia porque eles não faram nada a respeito.
Com o tempo, decidimos que o melhor era mudar constantemente os locais de reunião com os locais. Em várias ocasiões, famílias estrangeiras ricas permitiram que nos reuníssemos em suas casas. Vários de nossos treinamentos reuniram não só nossos irmãos locais, mas também a grande maioria dos voluntários que trabalham no país. Certamente, estarmos todos nós juntos era muito perigoso. Se alguém nos denunciasse, provocaria um grande problema, mas sempre vimos o cuidado do Pai. Lembro que, em um desses encontros, houve muita resistência de alguns colegas, mas naquela ocasião mais de 40 pessoas se reuniram. Foi um culto onde houve reconciliação, e pudemos até testemunhar como Deus respondeu à oração de um irmão orando pela cura de um homem que havia perdido mais de 70% da visão.
A verdade é que nosso Deus está estabelecendo seu governo nos corações dos povos muçulmanos e os está acrescentando à sua igreja, e um dia estaremos todos unidos em Sua Presença celebrando o Cordeiro sem qualquer tipo de restrição ou perigo.
C. – missionária no Chifre da África
Por Missão Zero
Novos Desafios, Novos Horizontes
Juntos podemos enfrentar novos desafios e alcançar novos horizontes na missão de Deus!
Um Ensaio sobre o Amor Multicultural
Um ensaio sobre o amor missionário, que se importa com o outro, se doa, e leva o amor de Deus aos diferentes povos, línguas e nações.
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