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MARÇO, 2019

Por Missão Zero

Há três anos, quando completava setenta anos e meus sonhos se viram interrompidos, achei que minha contribuição em termos de Missão havia acabado. Eu tinha me envolvido nesta ênfase do ministério toda minha vida e poderia passar agora a viver das boas lembranças.

Mas, no COMIBAM em Bogotá, em outubro de 2017, houve um convite do diretor da MIAF, Pr. Paulo Fenimam, para passar um tempo na África e me envolver no discipulado e pastoreio de pastores. O quanto foi séria esta provocação, eu não sei. Mas isto me levou a um propósito, que compartilhei no mesmo ano com minha família: “Eu quero voltar à África!”. Este continente nunca havia saído da minha cabeça desde a estada em Angola, há muitos anos atrás.

No ano passado os detalhes foram se encaminhando ao natural: uma reserva pessoal de dinheiro para outro fim poderia ser redirecionada; a parceria decidida da filha em me acompanhar; os encaminhamentos de um programa para nós dois em duas áreas diferentes, contemplando nossas habilidades; a porta aberta em Moçambique; o apoio decidido do escritório da MIAF em Londrina e a mão de Deus nos dando convicção de que ele estava junto conosco neste projeto, enfim nos colocaram a caminho.

Depois de quase um mês de intensa atividade, onde nos envolvemos com toda nossa energia e experimentando o cuidado e a graça de Deus, posso dizer que o sonho da Missão voltou a arder em meu coração. De uma forma diferente como tinha sido antes, quando estava mais envolvido no apoio logístico, como mobilização pessoal e de recursos financeiros, engajamento de igrejas na Missão, administração e tanto quanto possível, cuidado e pastoreio das pequenas comunidades que iam sendo plantadas.

Agora minha filha Sara e eu estávamos na frente da Missão! Ela ajudando a implantar um projeto de reforço escolar num local de extrema pobreza e apoiando um ministério com crianças e jovens. E eu levando à lideranças e pastores de Igrejas, pequenas e grandes, a visão do ministério prioritário de Jesus, que é o Discipulado.

Creio que nos saímos muito bem. O mês fora de casa passou muito rapidamente. Sara deixou marcas de sua habilidade e sensibilidade em muitas pessoas, a quem serviu com muito amor e dedicação. Isto apesar de uma enfermidade que a assolou de início ao fim do projeto.

Quanto a mim, pude reagir com naturalidade diante de um calor sufocante. Fisicamente aguentei tudo muito bem e me surpreendi a mim mesmo e louvo a Deus que me permitiu mais uma vez experimentar chegar aos meus limites.

Quanto ao Discipulado, isto é um capítulo à parte. Não seria justo dizer que o tema era desconhecido. Mas havia uma compreensão errônea entre os irmãos das igrejas moçambicanas, quando pensam que quase tudo o que fazem, além dos cultos e o trabalho social, seja discipulado. E é diferente em muitas igrejas do Brasil?

Assim, visitas nas casas, evangelismo, testemunho pessoal da fé, grupos caseiros, treinamento de lideranças quase sempre é visto como discipulado. Eu podia ver a surpresa e até resistência da maioria, quando falava em discipulado “um a um” ou o cuidado com um pequeno grupo de dois ou três pessoas escolhidos a partir de critérios como caminhada de fé, qualidades morais e espirituais já estabelecidas. Mas a ideia de fazer discípulos que fazem discípulos, os quais fazem discípulos e assim sucessivamente não tinha jeito de chegar mesmo bem fundamentado deste o V. Testamento e na relação de Paulo e Timóteo.

Enfim, após a metade do meu programa, quando decidi me apoiar no modelo de discipulado como Jesus fez com os Doze e depois com os Setenta creio que se abriu a visão das pessoas. Pena que eram sempre púbicos diferentes. Foram ao todo seis seminários, incluindo ministração num retiro de casais e um curso no IBS ( Instituto Bíblico Sofala). Registro estes programas juntos já que o assunto dominante era o mesmo, ou seja Discipulado e Pastoreio de Pastores. Além desta agenda, tive ainda oportunidade de pregar em seis cultos, sendo duas vezes no IBS.

Ainda quanto a mim e eventual continuidade deste ministério, por ora só vislumbro a possibilidade de retornar para Moçambique ou outro lugar onde Deus me chamar, dentro deste modelo Short Term (curto prazo). Poderia talvez esticar este tempo caso a esposa me acompanhasse. Enfim, não sei o que Deus poderia esperar de mim muito diferente nesta fase da vida. Mas o sonho da Missão continua pulsando onde, quando e como Deus quiser. Que ele me dê humildade de reconhecer meus limites e forças para superá-los, quando ele assim o desejar.

Sergio Almiro Schaefer

Creio que uma sementinha foi lançada. Em mais ocasiões, lideranças e pastores vieram a mim pedindo por ajuda e pela continuidade. Queriam acompanhamento, um ensino e experiência pessoal de se submeterem a uma caminhada no discipulado.